29 de mar. de 2025

Epílogo e finais abruptos

Não sei por onde começar esse texto. Já escrevi no diário, já fiquei no sol quente e sentindo a pele queimar no calor amarelo. Estou digerindo e pensando, mas meus pensamentos saem confusos, explodem palavras e sensações misturada a lembrança da despedida em um domingo chuvoso no velório. 

Quanto mais penso na morte do meu sobrinho, filho do meu meio-irmão (por parte de pai), mais acho doloroso, penso em tantas coisas. Penso em como a morte pode ser o fim das sensações sensoriais e explosões de cores e afetos, como ela por si evita inúmeros sofrimentos para quem parte, porém, para quem fica deixa marcas profundas, solidões, embaraços e a sensação de incompletude. Penso em quanto não consegui ser forte e me desfiz em chorar, o quanto achei injusto uma criança de 4 anos parti sem ao menos ter provado o que é ser humano e vivenciado todas suas dicotomias. 

Tendemos a ficar mais sensíveis quando uma criança se vai, ficamos ainda mais estarrecidos quando é uma criança-parente se vai. Mesmo que não sejamos próximos o suficiente, mesmo que não tenhamos convivido todos os dias, mesmo que não saibamos todos os gostos, brincadeiras favoritas, comidinhas favoritas, a cor que mais encanta, a temperatura perfeita da água do banho...mesmo assim, somos comovidos, tocados, sentimos o coração dilacerar. Já passei por alguns tantos velórios, me despedi de diversas pessoas...As intensidades mudam muito de acordo com as épocas e outras variantes, porém, ainda sinto que o coração nunca está preparado. 

Porém, toda vez que alguém parte e vamos no velório nos despedimos, nos conectamos com o luto, com os enlutados, com as dores, com a vida perdida e a não vivida, sempre pensamos: E se? Tantos "E ses" passaram por mim nesses últimos dias, tantos "e agora?" Inúmeros pensamentos, sensações, lembranças, cheiros, dores, tudo....Tudo sempre sentido, sempre dolorosamente melancólico. Não sou a pessoa mais próxima ou a mais presente na vida até mesmo de familiares e amigos, mesmo assim, ainda sinto as dores minhas e me compadeço das dores alheias...

Tanta coisa que pensei sobre minha dor e as dores alheias a mim. Estudo literatura, estudo a antiguidade, estudo a língua de poetas e literatos antigos e mesmo assim nada é suficiente, nem mesmo as linhas de um epitáfio grego antigo estão me ajudando. O meu desespero também se encontra quando meu cérebro não consegue decodificar a dor que está no meu peito e o emaranhado de palavras avulsas, emoções, medos e tantas outras coisas...Acredito que dizer adeus seja necessário. Então, esse é meu adeus!  


Considero o blog meu diário de páginas infinitas, sempre estou colocando sentimentos e acontecimentos por aqui, registrando alguns pedacinhos de mim no espaço da internet, amo que aqui tenho uma sensação de segurança que em outros lugares da internet não tenho. 

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