Nos últimos anos tenho procurado mais literatura decolonial, claro que ainda estou longe de onde eu queria estar conhecendo e consumindo mais esse tipo de literatura, porém acho que Krenak é um ponto de partida. É um livro pequeno de 122 páginas publicado pela Companhia das Letras, e minha aquisição foi através da parceria com a Livraria Unesp. Esse não é o primeiro livro do autor que leio, mas é o primeiro que trago aqui no blog!
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Uma foto minha um tanto antiga, 2023 |
Ailton Krenak é um líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta, escritor brasileiro da etnia indígena krenaque e Imortal da Academia Brasileira de Letras. Ailton é também professor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora, e é considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro, possuindo reconhecimento internacional. Só pelo histórico do autor ler ele é muita mais que imprescindível, ainda mais nos momentos sombrios que nos encontramos no campo político, social e intelectual.
A ideia de futuro por vezes nos assombra com cenários apocalípticos, podemos ver isso na prórpia ficção científica, por exemplo, com as distopias. Por outras, ela se apresenta como possibilidade de redenção, como se todos os problemas do presente pudessem ser magicamente resolvidos, "o amanhã vai ser melhor".
Em ambos os casos, as ilusões nos afastam do que está ao nosso redor, no momento presente, como o próprio livro nos aponta. Nesta nova coleção de textos, produzidos entre 2020 e 2021, Ailton Krenak nos provoca com a radicalidade de seu pensamento insurgente, que demove o senso comum e invoca o maravilhamento. Diz ele: “Os rios, esses seres que sempre habitaram os mundos em diferentes formas, são quem me sugerem que, se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral, porque já estava aqui.”
O livro trás um conjunto de ensaios o qual demonstra que meio ambiente, política ancestralidade e revoluções estão juntos. Além disso estão, atualmente, tão intrinsicamente aliados que política não se faz mais sem pensar o meio ambiente, ou deveria ser assim. O quanto o capitalismo está matando não somente a memória de vários povos indígenas, sua cultura, crenças e modo de vida, mas poluindo e ultrapassando espaços naturais, destruindo vida selvagens que são protegidas pelos povos originários. O sagrado é a terra, a fauna e a flora, e o homem vem apenas consumindo desenfreadamente visando o lucro bilionário de suas empresas...
Como podemos aprender com a própria natureza? Rios, lagos, fauna e flora possuem suas sabedorias, e todo o ecossistema tem uma forma sustentável de existir e de ser...O planeta se renova, se reinventa, tudo o que há nele é mais antigo do que a própria humanidade, como podemos observar e tirar lições de uma das maiores ancestralidades que temos?
"Para começar, o futuro não existe - nós o imaginamos. Dizer que alguma coisa vai acontecer no futuro não exige nada de nós, pois ele é uma ilusão. Então, pode-se depositar tudo ali, como em um jogo de dados. Infelizmente, desde a modernidade, fomos provocados a nos inserir no mundo de maneira competitiva." - pág 97
Pensar soluções ambientais, é pensar que a forma de consumo atual deve acabar, que a forma de se viver precisa se modificar completamente, o mundo precisa se transformar! O brasil precisa deixar de vender matéria prima como se fosse uma colônia 2.0 e investir em se renovar e transformar completamente, para isso o sistema socioeconômico deve mudar.
Portanto, é um livro que nos faz pensar e repensar, uma leitura válida e ótima para nos fazer meditar no momento presente, pensar no futuro de forma a não depositar esperanças vãs ou medos irracionais, mas ficar desperto no presente para lutarmos pelo futuro que queremos de forma sóbria. Acredito que é um pé na "fé" de que as coisas podem ficar bem, com o outro pé na realidade. Que a luta de classes e busca por igualdade social e liberdade possam ser guias e ferramentas para esse futuro tão sombrio como a maioria de nós o vemos.
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