11 de mar. de 2025

A divina comédia, Inferno, Dante Alighieri

Essa resenha comecei a escrever junto com a minha leitura de Inferno, porém acabei esquecendo de terminar de redigir o texto e publicá-lo. Só agora em 2025, arrumando os posts, verificando os rascunhos que encontrei esse texto perdido e finalmente trago para você caro(a) leitor(a)! Fiz apenas uma revisão de texto, e ajeitei algumas coisas, porém quis preservar o texto o máximo possível.

"uma vez dentro, deve-se abandonar toda a esperança"

Enfim terminei essa leitura! Levei umas três semanas (ou quase) para ler e mais um tempinho para redigir essa resenha, pois achei bem difícil fazê-la, afinal escrever algo a altura desse monumento da literatura, é quase uma tarefa homérica. 

A primeira parte de um dos grandes clássicos dos clássicos da cultura ocidental, sendo uma obra que trás o encontro da cultural clássica e a medieval. A propósito a viagem de Dante é uma alegoria através do que é essencialmente o conceito medieval de Inferno, e ao longo dessa jornada ele é guiada pelo poeta romano Virgílio.


O inferno tem uma disposição peculiar: é formado por Nove Círculos, Três Vales, Dez Fossos e Quatro Esferas. Essa disposição é baseada em uma teoria medieval sobre a criação e como algo como o Deus cristão teria disposto sua obra. Já a filosofia do inferno é muito inspirada na antiguidade clássica, especificamente com Aristóteles, Ética a Nicômaco. 

Dante, sem saber ao certo como, talvez por estar sonolento, perdeu-se em uma selva sombria, até encontrar a "entrada" do inferno. Segundo a tradutora Dorothy L. Sayers, a selva é uma representação simbólica da perdição no pecado, "onde a confusão é tão grande que a alma não se acha capaz de reencontrar o caminho certo".


Primeira parte da  Comédia  de Dante Alighieri, Inferno  é uma viagem às profundezas para onde foram condenados os que não agiram de acordo com a ética cristã. O poeta romano Virgílio é o responsável por guiar Dante nesse trajeto. Ao descrever o percurso de uma alma cristã que parte da consciência do pecado (Inferno), passa pela purificação interior (Purgatório) e chega à visão de Deus (Paraíso), Dante dialoga com as tradições da poesia clássica greco-latina, dos textos bíblicos e mesmo do pensamento árabe. 

O poema épico em si é sensacional, cheio de filosofia, literatura e boas doses de momentos inusitados, ora engraçados, ora divertidos e com gostinho do protagonista se deliciando em ver seus "inimigos" no inferno. Temas como morte, moralidade, fé, falsidade, puritanismo, credores morais e éticos, verdade vs mentira, leis "divinas", reconciliação, perdão e muitos outros temas estão presentes nessa primeira parte da Comédia.

Não considero um texto super fácil, muito menos algo mega difícil de ser lido. O poema exige atenção, porém como ele é narrativo, há uma linearidade, referências filosóficas e literárias, para alguns pode torna a leitura mais fluida, rica e talvez mais tragável. Houve momentos que eu precisei fazer algumas pausas, mas por conta do conteúdo que precisava ser refletido mesmo, algo que queria "ruminar" durante algum tempo. 

Eu li pela edição da editora 34,  essa longa jornada no Inferno, Purgatório e Paraíso, atualmente narrada em três livros, foi oferecida na íntegra - com seus mais de 14 mil decassílabos divididos em cem cantos e três partes - na rigorosa tradução de Italo Eugenio Mauro. Edição vencedora do Prêmio Jabuti e celebrada por sua fidelidade à métrica e à rima originais. A edição traz ainda, como prefácio, um ensaio de Otto Maria Carpeaux.

Dante e Virgílio atravessando o rio Estigepor Eugène Delacroix

É interessante destacarmos que o mundo linguístico de Dante é muito diferente do atual não apenas pelas questões históricas, políticas, sociais ou religiosas com as quais o poeta dialoga, mas também pelo idioma de que ele se vale para compor sua poesia. Tendo escrito em uma língua pré‑normativa, ou seja não cerceada pelas prescrições gramaticais que mais tarde determinariam o que hoje entendemos como "língua‑padrão", Dante se permitia uma série de liberdades sintáticas, lexicais, fonológicas e morfológicas. Tudo isso influencia as traduções e como, no momento atual, a obra é lida pelo leitor moderno. 

Dante, para quem não conhece o poeta, nasceu em Florença, em 1265. Por sua atuação política a partir da última década do século XIII, chega ao máximo órgão administrativo municipal de sua cidade. Mas, como consequência das divergências ideológicas com a facção aliada ao papa Bonifácio VIII, é condenado ao exílio em 1302. Após esse marco se dá a escrita de seus tratados Convívio, Sobre a eloquência do vulgar e Monarquia. Também desse período seria a escrita da Comédia. Por volta do ano de 1318 foi acolhido junto à corte de Ravena, onde morreu em 1321.



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