10 de out. de 2018

Literatura gótica


Um dos gêneros literários que eu mais consumo, além de FC e fantasia, é a literatura clássica no geral, acho tão estimulante e impressionante a escrita de muitos escritores clássicos, que não cabem tantos adjetivos. Tendo isso mente, um dos "subgêneros" literários que gosto bastante é a literatura gótica. 

Em oposição à filosofia neoclássica, de procedência aristotélica, os autores góticos investiram na criação de imagens obscuras e representações simbólicas. O medo e o anseio pela morte foram temas centrais nessas narrativas cujos enredos oscilavam entre a realidade verificável e a aceitação de um mundo sobrenatural.


Iniciado na Inglaterra durante o século XVIII, o romance gótico é creditado a Horace Walpole, cuja obra O Castelo de Otranto, publicada em 1764, é considerada emblemática na consolidação desse subgênero literário. Trata-se de uma manifestação essencialmente híbrida, que estabelece um elo entre o romanesco e o romance, caracterizando-se por uma atmosfera de mistério, aflição e terror. A década de 1790 representou o auge da literatura gótica, período em que foram escritas suas principais obras e consagraram-se autores como Ann Radcliffe e Matthew Lewis.

O termo "gótico" atribuído a essa literatura decorre, em parte, da inspiração retirada das construções medievais. Pode-se afirmar que tais romances representaram um retorno ao passado feudal, impulsionado pela desilusão em relação aos ideais racionalistas e pela intensificação da consciência individual diante dos dilemas culturais que emergiram na Inglaterra ao final do século XVIII.



Representando uma mescla de tradições distintas — uma combinação entre o mitológico e o mimético, entre a imaginação e a realidade —, o romance gótico propõe, de maneira subjacente, um retorno a uma época de sonhos, em oposição ao materialismo burguês e, até certo ponto, em confronto com as características gerais do Iluminismo. Nesses romances, as convicções mais simplificadas do pensamento cartesiano e racionalista são colocadas em dúvida, em favor de um discurso pautado pelo sentimento, o qual, ora melancólico, ora violento, frequentemente exagera na representação das emoções.

Os cenários são compostos por castelos, igrejas, cemitérios, florestas e ruínas ou uma natureza sombria, assim como os personagens, os quais são bem melodramáticos — como donzelas, cavaleiros, vilões e criados —, assim como temas e símbolos recorrentes, tais quais segredos do passado, manuscritos ocultos, profecias e maldições, são algumas das características marcantes dessa literatura. É comumente encontra-se um cenário e acontecimentos sobrenaturais. 

No Brasil, os principais escritores dessa corrente são: Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa,  Alphonsus de Guimarães e Augusto dos Anjos, ligados à era ultrarromântica ou ao chamado "mal do século", integram a tradição da literatura gótica brasileira, especificamente a segunda fase do romantismo. No cenário internacional, nomes como Edgar Allan Poe, Arthur Conan Doyle — especialmente com O Cão dos Baskerville — e Emily Brontë, entre outros, também se destacam nesse gênero.

Os livros góticos, portanto, oferecem uma verdadeira viagem no tempo: por meio deles, é possível conhecer os vislumbre dos pensamentos, anseios, ódios e amores de uma sociedade em determinado momento histórico, sejam os pensamentos dominantes ou não. Além disso, tais obras preservam fragmentos dos hábitos e comportamentos de seus respectivos grupos sociais, exigindo do leitor a leitura contínua de novas obras para a ampliação do conhecimento. Essa busca incessante, contudo, jamais se vê plenamente satisfeita, pois a sede por saber e o desejo de evolução intelectual são inextinguíveis.


Esse texto foi atualizado em 27 de abril de 2025

Um comentário:

  1. Gosto muito desse gênero e adoraria que voltasse a moda, pois seria muito legal ler mais obras como as citadas aqui no Brasil =D

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