A garota das laranjas, Jostein Gaarder

 Essa semana estou tendo uma crise de identidade, estou achando tudo uma loucura: algumas coisas que estou passando, nada grave sabe? Mas coisas curiosas da vida, que é um circulo maluco e sempre estamos conectados de alguma forma. Esse momento de devaneio coincidiu com minha leitura da semana, que foi agridoce, bem melancólica e com algumas discussões filosóficas, afinal um livro do Jostein Gaarder não seria por menos.



TítuloAppelsinpiken
Autor: Jostein Gaarder
Tradutor: Maria Luísa Ringstad 
páginas: 136
Editora: Presença
Onde Comprar: Amazon


Neste livro de Jostein Gaarder,  uma carta que ficou guardada por muito tempo revela ao adolescente Georg Roed uma história extraordinária. O autor da carta é o pai do menino, que morreu há onze anos - ele escreveu esta longa mensagem de despedida para que o garoto pudesse lê-la depois, quando estivesse mais maduro.

A história que o pai conta é do tempo em que ainda era um jovem estudante de medicina: a sua busca por uma moça desconhecida, que ele vê por acaso nas ruas de Oslo, sempre carregando um saco cheio de laranjas. Apaixonado, o rapaz persegue os diversos mistérios que cercam os seus encontros fugidios com a garota das laranjas, numa aventura que culmina numa grande revelação. Alternando entre a voz de Georg e a do pai, Jostein Gaarder constrói uma narrativa pontuada com perguntas filosóficas, que tratam de temas como o amor, a morte e a grandeza do universo.

Meu primeiro contato com essa história foi no ensino fundamental, sempre chegava aos 1/3 do livro e nunca seguia com a leitura, no entanto a oportunidade de relê-lo, de certa forma, apareceu quando minha irmã o adquiriu. E o gostinho da história, lembra muito Soul, o filme mais recente da Disney e Pixa.

Apesar da história ser interessante, a narrativa oscila entre o muito fluido, repetitivo e as vezes parece andando em círculos, dando tonturas com os rodeios filosóficos e  crises existenciais, ora quando Jan Olav (pai do Georg) escreve a carta está prestes a morrer, o que é até certo ponto compreensivo, mas o irritante é quando alterna para o filho e ele continua com as mesmas "dores" filosóficos, embora seja um adolescente, Georg tem um olhar irritantemente minucioso e politicamente correto da vida. O momento do pai, por outro lado é outro, o qual ele tira diversas reflexões tristes sobre o viver e ser "retirado" a força desse plano no momento mais feliz de sua vida. Ou seja, o livro é duplamente angustiante.

Ademais, o personagem mais profundo e interessante é Olav, não somente por sua forma questionadora e um pouco mística de ver a vida. mas a forma como foi construída também cativa o leitor. A garota da laranjas, personagem chave para toda a história, é misteriosa e ensina a Olav a ver os detalhes da vida. Agora, Georg é muito chato, é um adolescente, age como um e há cenas que não demonstra maturidade suficiente para a idade, ou talvez por ser jovem demais, ainda não tenha maturidade suficiente.

Um livro agridoce, portanto, ora doce, com as fantasias e delírios de um apaixonado em busca da garota das laranjas, ora azedo, com o amargor do fim da vida, isto é, o livro discorre sobre a efemeridade da vida, o quanto absolutamente tudo é líquido e inconstante, desde nossos contratos sociais até mesmo a vida em si. Considero como um livro profundo e muito, muito melancólico, o longo tempo que passamos vivendo em comparação com os longos anos do universo, a vida que passamos com quem amamos, em como a magia do viver está em coisas simples (sim, como em Soul), nos dando conta de que é lindo viver mesmo nas horas amargas. 

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