20 de jan. de 2025

Lições de poética, de Paul Valéry [12 livros para 2025: 01/12]

Até o momento esse foi um dos livros mais "complexos" de ter lido, e olha que sou estudante de Letras e acostumada com muito texto teórico e jargão acadêmico. Não foi essa a questão! Acredito que por ter sido bem após as festa de fim de ano, e ter tido um semestre conturbado, acabei ficando um pouco mais cansada com livros teóricos, mas ao longo dessa jornada fui redescobrindo o encanto de ler livros não-ficcionais. 

O que mais achei interessante é, que com a leitura fui percebendo que o autor falava de uma época distante da minha, e até a forma como tudo estava sendo composto em sua linha de raciocínio me remetia ao século passado (comecei a leitura sem pesquisar sobre o autor). Então, acredito que comecei bem o desafio de 12 livros para esse ano de 2025


Esse livro também é mega especial, ganhei de uma grande amiga minha, a Ingrid, a qual também me presenteou com Aqueles que queimam livros, de George Steiner. Então foram duas leituras, uma quase seguida da outra, que falam sobre literatura e toda sua importância. Apesar de serem de épocas bem distintas, acabam se conversando e entrecruzando alguns temas e observações. 

Lições de poética, é divido em três partes, são três aulas do autor dada na universidade francesa. É extremamente interessante e um exercito intelectual válido, no entanto, é uma leitura um pouco cansativa dependendo do momento que o leitor se encontrar e alguns pontos são realmente arrastadas. Acredito que por serem aulas, presencialmente deveria ter sido muito mais fluido do que a leitura em si, pois no próprio texto já vemos uma certa empolgação do autor com o tema. 

Para quem não conhece, assim como eu não conhecia, o professor Paul Valériy foi poeta, ensaísta, prosador e crítico de arte, nasceu em Sète, França, em 1871. Publicou seu primeiro livro aos 36 anos, em 1907. Foi eleito para a Academia Francesa em 1925, e foi nomeado professor do Collège de France em 1937. Foi o poeta oficial da França no período do entreguerras. A tradução da presente obra ficou ao encargo de Pedro Sette-Câmara. 


Valéry nos propõe considerar a literatura e a arte de modo geral, não como obras acabadas e encerradas em si, mas primeiro como atos do intelecto que a compõem, e, segundo, como atos do intelecto que a recebe. Parece muito denso, mas ao longo da leitura tudo isso é exemplificado e bem explicado. O texto é complexo, mas não difícil de entender! Vê-se os pensamentos que eram predominantes no século XIX e início do século XX, os quais ainda são ferramentas criticas e não estão tão distante assim da academia atual, as formas de análise e aprofundamento na literatura e da arte em si. A proposta do professor é poder se aprofundar na literatura de forma critica, mas a ideia é trazer provocação para estimular o pensamento analítico de seus alunos.

Em suma, temos reflexões tão válidas para aqueles dias, quanto para os nossos dias sobre a arte, criatividade, pensamento, ensino, o quanto a literatura nos impacta, o que ele que chama de "obra do intelecto". Nessa obra ele faz uso de analogias com a economia, natureza, fala sobre a capacidade do ensino como instrumentalização do intelecto, quase como "refinar" a capacidade intelectual. Além disso, ele faz uma exortação para ordenar os pensamentos, percepções e reflexões,  não permitir que a inteligência não seja livre e fluida, ou seja, que não fique presa, e não se tornar uma pessoa insensível a arte e a vida por conta das novidades do século. Achei as observações válidas, profundas e bem interessantes, ao ler esses ensaios tive essa inquietação pela literatura, senti que realmente ela aguça nosso desenvolvimento como pessoal e nossa sensibilidade. Falar de literatura e como ela é revolucionária me comove de tal maneira que nada parece ser suficiente para explicar tudo o que sinto ou como enxergo o mundo...Ainda preciso de mais!

Bem como entendi muito bem, ao longo da minha jornada de leitora, que faz uma grande diferença e foi muito trabalhada ao longo dos ensaios: a necessidade de um arcabouço teórico, refinamento e ordenamento de pensamento. Inclusive, ao longo da leitura me lembrou de algo que sempre trouxe aqui no blog: quanto mais referencias, quanto mais preparados estamos para fazer uma leitura, para observá-la ativamente, mais aproveitamos da obra. Nunca excluindo, logicamente, nossos processos de vida, vivencias e tudo o que compõem quem somos.


Um comentário:

  1. Esse seu relato inicial me fez lembrar da época que também era estudante de Letras e li A teoria do Romance, de Luckács pela primeira vez. Nossa, foi muito difícil! E Os Gêneros do Discurso, de Bakhtin? É engraçado que quando terminamos a faculdade e decidimos voltar as esses textos, a leitura é mais fluida.
    Não conheço Paul Valery, se não tivesse lido sua resenha, acho que nunca conheceria, mas gosto muito de textos teóricos sobre literatura, teoria do discurso e afins, mesmo que não trabalhe mais nesse ramo há uns 6 anos, gosto de me manter atualizada. Obrigada pela dica!

    ResponderExcluir

OS COMENTÁRIOS OFENSIVOS E INCOMPREENSÍVEIS SERÃO EXCLUÍDOS!!!
Assim como:
-Contendo qualquer tipo de preconceito!!!
-misóginos
- Uso de palavras de baixo calão
Dê sua opinião de maneira elegante e respeitosa, e caso for discordar de algo respeite o ponto de vista alheio!!
Ressalto que os comentários de visitantes e leitores não refletem necessariamente a minha opinião.
QUALQUER COMENTÁRIO QUE NÃO ESTEJA DENTRO DAS DIRETRIZES SERÁ EXCLUÍDO

Leia esse post!

Razão e sensibilidade, Jane Austen

Esse é o segundo livro da maratona literária de inverno 2020 que termino, e como o escolhi para o desafio certo! "Um livro suspeito  de...