Contos novos, Mário de Andrade

Terminei essa semana esse livro, que de alguma forma ficou comigo todo esse semestre, pois fiz algumas análises na disciplina de Literatura Brasileira. Esse é um livro que fica sendo digerido durante dias em sua mente, é um livro que vai te tirar da zona de conforto, caso não esteja familiarizado com a escola modernista brasileira.

Antes de falarmos propriamente do livro, é necessário falar do movimento modernista brasileiro na literatura. A grosso modo, esse é um momento de amadurecimento da nossa literatura, com enaltecimento e valorização da própria cultura brasileira usando de inspiração as vanguardas europeias e ideias dos grandes pensadores ocidentais modernos, Kalr Max, Freud e Nietzsche. Sendo assim, a literatura modernista é caracterizada por pautas sociais, predomínio da critica, questionamento do ser e do que conhecemos do mundo.


Contos novos publicado postumamente, em 1947, e narra os relatos da maturidade artística de Mário de Andrade. Trata-se de uma coletânea de textos escritos pelo autor ao longo de sua vida, desde os primeiros momentos do Modernismo, passando pelo gênero nacionalista e pela interpretação crítica, sem perder suas características artísticas e estéticas. 

Ademais, os contos não estão ligados narrativamente, no entanto tem algo em comum que é a inquietação humana do ser, fala sobre moralidade, sexualidade, sociedade, marginalização de grupos e classes. Na sua totalidade, os contos são incríveis, tanto na forma narrativa, na ambientação e construção do personagens, quanto no desenrolar dos acontecimentos. Mesmo sendo contos, que em sua essência tem uma narrativa breve, são grandiosos, porque os personagens são interessantes, e o leitor imerge dentro da personalidade dos personagens. Mário consegue aguçar a imaginação e o envolvimento do leitor com suas obras, e em Contos Novos não é diferente. São contos para serem lidos e relidos, para serem degustados lentamente, para serem refletidos, questionados e estudados. Nos próximos parágrafos irei falar brevemente dos contos que mais me chamaram a atenção.

Em Vestida de Preto – Narrador personagem, o qual nos mostra através das suas memórias seu primeiro e único amor e a perda da inocência da infância por meio da malícia dos adultos. Através de um contexto freudiano, o protagonista discorre sobre suas dores pelo amor que sentiu em toda sua vida e como foi moldado por ele. Já em O ladrão temos um cenário coletivo no meio da madrugada. Alguém grita ladrão e a vizinhança desperta do seu sono e  começam a busca pelo ladrão. Em meio ao caos, os vizinhos vão interagindo, em tais interações o escritor usa as entrelinhas para falar sobre a moral, machismo, adultério e muito mais dos sujeitos dessa comunidade.

Ademais, em Primeiro de Maio temos novamente o tema da coletividade, mas em uma perspectiva diferente. Um narrador onisciente seletivo aproxima-se de 32, um jovem com inocência política e pertencente ao proletariado, vai aproveitar, inicialmente, o feriado, e ao terminar do dia está com suas convicções diferentes. Mostra o amadurecimento de um jovem com desilusões e visão de mundo limitada sobre o que está acontecendo no Brasil no período em que vive.

O poço fala novamente sobre questões sociais, um patrão caprichoso coloca em risco a saúde e a vida dos empregados de sua fazenda, sem ao menos se importar com o que pode acontecer a eles. Frederico Paciência já é um conto mais voltado ao interno, ao sujeito e como a sociedade não aceita o homossexual. Julga e isola na menor oportunidade de estranheza e suspeita de algo fora da normatividade. É um conto sobre o romance de dois amigos, Juca e Frederico, um pouco antes do ensino médio até o final deste, e o resultado do medo do pecado, medo do julgamento e da estrutura social. 

Por fim, o Tempo da Camisolinha o narrador conta suas memórias de infância e como este entendia o mundo, como era seus primeiros pensamentos e entendimento a respeito da vida e de como lidar com as coisas, entender as leis dos adultos e os sofrimentos do mesmo.

Para encerrar esse post, portanto, vamos falar do escritor Mário de Andrade. O qual  foi um poetacontistacronistaromancistamusicólogohistoriador de arte, crítico e fotógrafo brasileiro. Um dos fundadores do modernismo no país, ele praticamente criou a poesia brasileira moderna com a publicação de sua Pauliceia Desvairada em 1922.

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