Frankenstein ou o prometeu moderno, Mary Shelley (2° leitura)

 Não pensei que releria Frankenstein tão cedo. Alias eu li esse livro porque estou em um clube de leitura, o qual lemos todos os livros mencionados na série Gilmore Girls com duas amigas da USP. A primeira vez que li foi em 2019, quando  eu estava na primeira faculdade (eu desisti dessa graduação, lembra?), e me fez mergulhar profundamente na história, algo que não foi diferente dessa vez. Caso você queira ler a resenha de 2019 é só clicar aqui!


É narrada a história de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais empenhado em descobrir o mistério da criação e que acaba por construir um ser humano - ou seria um monstro?- em seu laboratório. Livro é epistolar; a introdução é feita por cartas de um personagem fora da história de Victor. Um viajante/aventureiro que está indo para o ártico (naquela época, século XIX, era comum haver expedições para essa região, pois permeava tanto o imaginativo quanto despertava a curiosidade). Em um dado momento no início do livro esse personagem, R. Walton, se encontra com Victor, e então conhecemos a história dele. Partimos de flashs da infância do protagonista, seu ingresso na universidade até a criação da criatura, que é tão desprezada que não tem nome, até o momento de sua caçada, que seria o encontro de Victor e de Robert Walton.
[...] “Um ser humano perfeito deve sempre preservar uma mente calma e pacífica e jamais permitir que a paixão ou um desejo transitório pertube sua tranquilidade. p.81-82

Como na minha primeira leitura, continuo vendo que é um livro que fala muito sobre as aparências, o que é aceitável perante a sociedade ou não, tratando-se da natureza humana tanto sua capacidade de fazer coisas boas, quanto ruins. Outrossim, algo que ficou bem mais evidente é a sobre a influência da sociedade, uma criatura nasce neutra, não necessariamente ruim ou necessariamente boa, contudo a sociedade que vai corrompe-la, vê-se que tem uma linha filosófica dominada por Rousseau. 

Outro tema, que já tinha observado na primeira leitura, é o trato da solidão. A solidão é uma temática recorrente, além de ser retratada em diversos personagens. Primeiro em Robert Walton, que carece de um amigo, depois no próprio Victor Frankenstein, e chegamos no ápice com a criatura. Diversas vezes a criatura, quando vai narrar, destaca o quão só ela está, o quanto ela não faz parte do mundo humano. Nesse sentindo, ao observar a complexidade da criatura, o leitor se depara com diversos outros subtemas, como a não aceitação, importância da aparência física, status sociais, a situação de pessoas de rua e quão invisíveis elas são (esse paralelo pode ser feito quando a Criatura encontra-se morando na floresta e próximo à outros chalés também). Algumas passagens e diálogos me lembraram um pouco do estoicismo, escola filosófica grega que prega o equilíbrio entre nossos desejos, e formas como vemos o mundo. Tal equilíbrio polpa o ser humano de sofrimentos e dores, o controle dos desejos descontrolados resulta em uma vida satisfatória, algo que permeia o livro todo.  Sêneca e Epiteto, grandes nomes que representam essa filosofia – enfatizaram que, porque "a virtude é suficiente para a felicidade", um sábio era imune ao infortúnio. 
[...] “Você acha, Victor -disse ele- que também não sofro? Nínguem poderia amar uma criança mais do que eu amava seu irmão. -As lágrimas vieram aos seus olhos enquanto ele falava.-Mas é um dever dos sobreviventes evitar que não apenas a infelicidade dos demais aumente com uma aparencia de tristeza imoderada, mas também a de nós mesmos. A tristeza excessiva impede nosso crescimento, o prazer e até mesmo as funções diárias, sem as quais nenhuma pessoa é adequada para a sociedade. p.132
Os personagens são memoráveis, seja negativa ou positivamente, portanto, como o protagonista, Victor, que tem uma personalidade egoísta, mesquinha e mimada. Em sua narrativa, que remete ao romance de formação, destaca o quanto foi bajulado quando criança e o quanto a vida de seus pais dependia da felicidade dele; Destacando-se como um "personagem negativo", em contraste com sua futura esposa, a qual é lembrada pela doçura, justiça e fé na humanidade. Enfim, um livro que traz diversas questões consigo, não somente "criador X criatura", ou "certo X errado", pois há momentos que não são tão certos ou tão errados, mas há suas consequências. 



  

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