Resenha: Yargo, Jacqueline Susann


Uma jovem da Terra é sequestrada por seres provenientes de Yargo, planeta avançadíssimo, pertencente a outro sistema solar e habitado por um povo intelectualmente muito elevado. Porém o visado no sequestro fora, realmente, um grande cientista a quem os yargonianos pretendiam transmitir informações vitais para a sobrevivência da Terra, e ao verificarem o engano acharam que seria perigoso devolver a jovem ao seu planeta pelos conhecimentos que ela agora possuía de Yargo.

Janet Cooper é uma jovem adulta não muito inteligente -mas tem boas discussões filosóficas e sociais ao longo do livro-   Apesar de estar noiva do cara mais perfeitinho, diga-se de passagem que é um idiota e irritante,Janet não está feliz e,  ela tenta recriar a magia do passado a fim de sentir um pouco de alegria. Para tanto ela vai a praia de Avalon, onde passara momentos alegres na infância e, logo percebe seu fracasso e sua infelicidade, então a história mais atraente começa, ela é abduzida.

"Mas, eu também era humana, com emoções humanas. Não apenas um "elemento do sexo feminino", mas um mulher de verdade, que não podia ser afastada do seu mundo e das pessoas que amava sem nem mais nem menos. E, sendo um mulher com emoções em frangalhos, fiz o que faria qualquer mulher sensata: desabei no divã e desatei a chorar."    -Página 56
     
Janet é levada para Yargo por engano, pois pensaram que estavam capturando um famoso cientista. O planeta
onde seus abitantes não sentem emoção alguma, apenas a lógica rege suas vidas, até mesmo os nascimentos não são realizados por mulheres, que com um auxilio de uma pílula retira o feto, quatro meses depois em uma espécie de "ovo", a mãe leva-o para o "banco" de reprodução e não precisa mais vê-lo. As crianças são treinadas nas ciências, como se fosse a escola de Vulcano, por exemplo; posteriormente, seguem áreas que mais desejarem, seja humanas, exatas, exploração, teatro, etc.

O contexto histórico do  livro é de 1970, ou seja, período de guerra fria, corrida armamentista, pós-bomba nuclear e recém bomba de hidrogênio. Então, obviamente traz discussões sociais, críticas à todos governos, e inclusive à sociedade estagnada da época, e até mesmo a  visão de matrimonio. Enquanto Janet, que representa toda a humanidade e seu sentimentalismo e crença em deus, Sanau, uma yargoiana, é toda lógica e pura ciência, demonstrando um grande contraste entre as mulheres,  cultural e intelectualmente, a escritora foi ao pé da letra, quando criou um mundo sem emoções, inclusive dor física "não deve ser sentida", pois trata-se de uma emoção.

"Eu tinha que dar a mão a palmatória. Eu ficava imaginando métodos de cowboy e índio para fugir, ou falava em suicídio, mas aquela mulher lutava com o cérebro e astúcia até o fim". - Página 134

Trazendo discussões dos mais simples fatos da vida, em como a sociedade valoriza o imediatismo, o dinheiro fácil, até mesmo a maternidade é bem discutida, desde a mulher querer ter filhos a forma  de cria-los,  até a falta de afeto na vida, ou excesso dele. Enfim, tem muitas coisas nas entrelinhas.

Há momentos extremamente angustiantes na narrativa, inclusive uma tentaria de estupro, todavia, a momentos de alívio cômico oferecido pela protagonista e suas situações inusitadas, deixando a narrativa cativante e muito fluente.

Esse livro é excelente para quem está começando na ficção científica, pois tem explicações nada complicadas com base na  ciência da década de 1970, alias, naquela época havia grande especulações sobre Vênus, um dos planetas explorados no enredo, devido as suas densas nuvens e que outrora não fora explorado, imaginava-se que haveria um ambiente favorável a vida, com pântanos e formas de vidas primitivas.
Para quem assistiu Cosmos com Carl Sagan, pois ele explica sobre essas especulações sobre Vênus, que remontam antes da década de 1970, vai ficar muito mais fácil de entender as explicações sem torcer o nariz, pois para época parecia coerente, e claro não pudia faltar clichês da ficção científica.

Além de  ser classificado como FC, também é como romance, porém, algum envolvimento amoroso da protagonista só acontece ao final do livro, isto é, o enfoque não é o romance entre uma humana e um alienígena, mas sim os acontecimentos derradeiros e como a Janet lida com eles. Se a emoção é realmente de alguma valia para vida e seus acontecimentos, e as consequências de seus excessos ou falta.
Jacqueline Susann 

Fora da ficção..  
As condições extremas de Vênus - temperaturas estável da superfície de  475 ℃, pressão atmosférica 9,2 Mpa e tempestades de ácido sulfúrico - fizeram com que as sondas não sobrevivessem por muito tempo.  Venera 7 ( do programa Venera, enviada pela URSS). Foi a primeira sonda desenhada para resistir às extremas condições de Vênus e a realizar um pouso controlado no planeta. Alcançou Vênus em 15 de dezembro de 1970 e pousou no planeta no mesmo dia. Enviou informações à Terra por 23 minutos antes de ser destruída pela  pressão do planeta. O radar da Venera 7 detectou ventos de 2,5 m/s (metros por segundo). Foi o primeiro artefato humano a pousar suavemente em outro planeta e conseguir transmitir informações durante certo tempo. 
A Venera 8 pousou em Vênus em 22 de julho de 1972 sobrevivendo por 50 minutos.

Pontos positivos: Sanau, abdução, Yargoianos e sua cultura bem explorada                                                     

Pontos negativos:  Enredo um pouco lento no inicio, relevância demasiada as emoções, fundo religioso. 

Título: Yargo
Autora: Jacqueline Susann
Número de páginas: 237
Ano de publicação (Brasil): 1979
Editora:Círculo do Livro
Tradução:Isabel Paquet de Araripe
Ler/Baixar: Lê livros


Comentários

  1. Não conhecia esse livro e nem sua autora, mas pelo jeito ele parece ser bem forte e apresentar discussões bastante importantes sobre o papel da mulher na sociedade. Bem bacana =D
    Adorei a resenha!
    Beijão

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    1. Esse é o primeiro livro da escrito que leio da autora, também não a conhecia. Yargo, é interessante por muitos aspectos, é uma viagem a década de 70s.

      Beijão e obrigada pela visita <3

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  2. O livro me despertou interesse, principalmente por está em uma fase que eu quero ler tudo que encontro pela frente. Essa coisa de ficção é tão emocionante, né? Cativa, faz a gente querer engolir as páginas o mais rápido possível. 1970 é um ano que me chama muito atenção, acho que em outra vida eu vivi nesse contexto, nesse tempo, vivendo com essas músicas e essas dramatologias incríveis. Amei sua interpretação do livro, sua resenha ficou bem colocada.

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    1. Bem-vinda ao Blog, Laura, é muito bom tê-la na comunidade =D
      Fico super feliz que tenha gostado da resenha.
      ah eu também gosto da década de 1970, acho interessante ver a sociedade em diferentes lentes heheh

      Obrigada pelo comentário e pela visita!! <3

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  3. Circulo.do.livro, que saudades....li.muitos e muitos livros pq neste sistema VC poderia ler e devolver o livro ou trocar, livro naos anos 70 era muito caro e a classe media teve acesso aos bons livros neste sistema apoiado pelos governos.militares, embora tivesse ainda a sensura, mas era jovem nao importava. YARGO foi um dos lindos e ótimos livros que li e me apaixonei jamais esqueci....hj.meio esquecido, mas quem ler vai se apaixonar.

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