17 de fev. de 2019

Coração das trevas, Joseph Conrad



Eu demorei muito tempo para terminá-lo, não que eu tenha me entediado ou não tenha gostado, pelo contrário, eu gostei bastante da obra, mas sim porque a história é densa, pesada e também que o autor usa muitas metáforas, e o leitor precisa ter uma detida atenção. O coração das trevas inicialmente foi publicado em fascículos em uma revista britânica em 1899, apenas em 1902 que ele foi publicado no formato de livro. 

Título original: Heart of darkness 
Autor: Joseph Corad
Número de páginas: 150
Tradução: Celso M. Paciornik
Edição: Clássicos Abril coleções 2002
Editora: Abril editora
ISBN: 978-85-7971-026-1

Marlow conta a um grupo de amigos a bordo de um navio ancorado no estuário do Rio Tâmisa, desde o anoitecer até de madrugada, a sua aventura no continente africano, especificamente no Congo, inicia sua narrativa contando como conseguira o posto na companhia, através da ajuda e influência de sua tia . Assim ele se torna comandante de um pequena embarcação à vapor, sendo-lhe, posteriormente, atribuída a missão de resgatar um chefe de posto de comércio, conhecido por Sr. Kurtz. 

Ao longo da história Marlow conta os horrores que viu no Congo, a escravidão, selvageria, ambição, e até mesmo os homens mais "civilizados" de Londres se transformavam naquele ambiente. Nesse ponto aqui preciso expor o que penso, achei que o livro é mais do homem branco colonizador desdenhando da cultura e paisagens fora da Europa. Sinceramente, não entendo como um livro carregado de estereótipos e preconceitos pode ser um clássico. Talvez por isso deva ser? Pois a visão eurocêntrica perpassa até hoje a nossa cultura e o quanto os europeus possuem uma visão centralizadora e racista do mundo? 

O personagem descreve o lugar como "Coração das trevas", mas ao finalizar a leitura pode-se interpretar que Londres também é o coração das trevas. Ademais, Kurtz também pode ser visto como um "arquétipo" para a luta por mais e mais lucros sem escrúpulos, passando por cima de qualquer obstáculos, seja natural ou moral. A baixo deixo com você, leitor, um trecho que mostra o quanto esse livro trás um personagem extremamente preconceituoso. 

Encontrei-me de volta na cidade sepulcral indignado com a visão de pessoas se precipitando pelas ruas para surrupiar dinheiro uma das outras, para devorar sua comida infame, para engolir sua cerveja infecta, para sonhar seus sonhos tolos e insignificantes. Elas violavam meus pensamentos. Eram intrusas cujo conhecimento da vida me parecia uma pretensão irritante porque sentia que não poderiam saber das coisas que eu sabia. - Página 124

Conrad construiu uma narrativa com uma história dentro da própria história, fazendo com que o leitor dobre sua atenção para pegar todos os detalhes do enredo. A obra tem um caráter crítico e psicológico e,  e essa edição é de fácil leitura em relação ao vocabulário, em contrapartida exige uma alta concentração do leitor por constituir uma narrativa simbólica e de rápidas conexões, às vezes com frases aparentemente desconexas e  metáforas. 

Por ser um clássicos inglês, certamente temos o ponto de vista europeu sob a África, apesar do autor ter trazido diversas críticas, infelizmente ele demonstra os povos nativos como apenas selvagens, desprovidos de sentimento e sensos humanos, como liberdade, amor, tristeza e angustia, dando-os um tom de desumanização. É revoltante! Inclusive isso se estende para a paisagem.

O livro trás discussões da alienação que o processo colonialista produz nas pessoas, da violência europeia no colonialismo na África durante o século XIX , assim como personagens ambíguos que estão inseridos nesse cenário de violência  e que participam desse processo. 

O livro, portanto, é uma leitura que não tem muito o que se esperar de novo, trás uma visão bem preconceituoso e em certas partes bem tortuosa em diversos aspectos, há muito o que se criticar e analisar. Este livro é baseado nos relatos de viagem que próprio escritor fez para o Congo em 1890, nesta época o rei Leopoldo II, em 1885, durante a Conferência de Berlim, teve posse de todo o território conguês, tendo em vista o marfim e a borracha da região que o interessavam.  Ah, vale ressaltar que para pessoas sensíveis a violência: o livro tem passagens com descrição das condições dos escravos, como estavam vivendo e cenas de violência no geral. 


3 comentários:

  1. Já tinha ouvido falar deste livro, mas essa é a primeira resenha que leio sobre ele.
    Adoro literatura clássica, então já chamou a minha atenção. Gostei dos temas discutidos na obra, parece trazer muito aprendizado.
    Adorei a resenha, obrigada por compartilhar essa leitura =D

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    Respostas
    1. Essa leitura é incrível, recomendo bastante. Adoro poder compartilhar livros maravilhosos <3 Fico imensamente feliz que gostastes da resenha<3

      Obrigada pela visita =D

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