27 de jun. de 2025

Pensamentos vegetarianos, Voltaire

Levei alguns dias para terminar esse livro, mas apenas porque era meu livro de ônibus e metrô e nem sempre estava tão disposta a ler durante meu trajeto por conta de uma série de coisas como cansaço mental, aliás é o que eu mais sinto ultimamente. 



Bom, dentro da minha experiência de leitura senti-me profundamente tocada! Por ser vegetariana/ovolacto senti a revolta nas linhas escritas, a forma como o filósofo se posiciona diante de uma sociedade hipócrita e como dialoga com o leitor apenas me mostrou o quanto ainda hoje se faz necessário essa discussão, é quase como se eu me visse, de certo modo, refletida nos recortes filosóficos.

Ao longo da obra, é evidente esse esforço de Voltaire em articular razão, sensibilidade e justiça, sua crítica não é apenas contra o consumo de carne, mas contra todo tipo de violência institucionalizada e naturalizada pela cultura. Algo que devemos refletir sobre os nossos dias também! Ao refletir sobre nossos hábitos alimentares, ele nos convida a pensar sobre a forma como tratamos os seres vivos e, por consequência, sobre a própria natureza da humanidade em si. A fluidez dos textos é notável, o que me deixou embasbacada: Voltaire tem uma escrita afiada, direta e, ao mesmo tempo, profundamente reflexiva. 

A leitura é uma experiência provocadora e intelectualmente revigorante, de fato é quase um deleite para leitores e amantes de um exercício filosófico-moral. De forma mordaz o filósofo ilumina as contradições morais de uma sociedade que naturaliza o consumo de carne ao mesmo tempo em que se diz civilizada e ética, seu estilo também é impregnado de ironia e lucidez, o que torna a leitura não apenas informativa/didática, mas também intensamente reflexiva.

O que mais impressiona é a capacidade do autor de antecipar, em pleno século XVIII, debates que ainda hoje dividem as pessoas: a ética alimentar, o sofrimento animal, o especismo, e a moral seletiva que concede alma e dignidade a uns, e nega a outros. Voltaire desnuda, também, a hipocrisia religiosa e filosófica, em especial a justificação cristã de que “os animais foram feitos para serem comidos”, essa sem dúvida é uma das "justificativas" que me revolta muito! A revolta de Voltaire diante dessa ideia é não apenas filosófica, mas visceral e encontra eco no leitor moderno, sobretudo em quem se sente desconfortável com os alicerces frágeis de nossa tradição alimentar.

A crítica voltairiana não se limita à denúncia social; ela propõe, inclusive, uma reeducação do olhar e da consciência, o autor nos desafia a abandonar a passividade moral e a refletir sobre os hábitos herdados sem questionamento. Sua argumentação é ao mesmo tempo lógica e sensível: a violência contra os animais, diz ele, não é justificável pela ausência de uma “alma” nos moldes humanos, muito pelo contrário, é um ato de brutalidade que revela a própria limitação espiritual do homem.

Como leitora, fui profundamente tocada pelo texto. Além da admiração pelo domínio estilístico de Voltaire, senti também uma revolta compartilhada (como eu disse no começo do texto) diante das ideias absurdas que, incrivelmente, ainda hoje persistem. A leitura não apenas confirma a atualidade de seu pensamento, como também reacende a urgência de retomar, com coragem, uma discussão ética sobre aquilo que colocamos em nossos pratos  e, mais profundamente, sobre como tratamos os seres com quem dividimos o planeta.

24 de jun. de 2025

Recebidos de junho [Livraria UNESP]

Faz algumas semanas que não posto aqui no blog. Esse mês tem sido cheio de atividades para fechar o semestre na faculdade; muita coisa para lidar ao mesmo tempo, e até mesmos perda na família também. É tanta coisa que tem acontecido! Sinto que vivi várias vidas nesse meio tempo entre maio e esse fim de junho! O tempo corre, corre e não olha para trás...Só me faz lembrar a música "O tempo não para", do Cazuza por conta da sobreposição de fatos e acontecimentos em um "flash" de história. 

Nesse post trago mais recebidos (book haul) em parceria com a  Livraria Unesp, localizada no número 108, Praça da Sé, Centro, São Paulo. Como sempre digo por aqui, é sempre com muita alegria e empolgação que trago os livros dessa parceria, poder escolher os títulos é extremamente importante para mim. Lembrando que temos cupom de desconto de 15% com: jessica15. Aproveitem para adquirirem seus exemplares com desconto!


A Letra EscarlateNathaniel Hawthorne

Publicado em 1850, o romance se passa na Nova Inglaterra puritana do século XVII e gira em torno de Hester Prynne, uma mulher condenada por adultério. Como punição, ela é obrigada a usar uma letra "A" escarlate no peito, símbolo de "Adúltera", tornando-se alvo do desprezo público. Hester se recusa a revelar o nome do pai de sua filha, protegendo-o mesmo sob sofrimento. Ao longo da obra, questões como culpa, hipocrisia religiosa, repressão moral e o papel da mulher na sociedade são exploradas com profundidade. É um clássico da literatura norte-americana que critica os valores puritanos e propõe uma reflexão sobre liberdade, julgamento e redenção.



Por Que EscrevoGeorge Orwell

Essa coletânea reúne quatro ensaios autobiográficos e políticos escritos por Orwell, sendo o primeiro  que dá título ao livro, uma espécie de manifesto literário. Nele, Orwell narra sua trajetória como escritor e afirma que toda escrita é, de certa forma, política. Expõe suas motivações (egoísmo, entusiasmo estético, impulso histórico e propósito político) e critica a manipulação da linguagem pelo poder. Nos demais ensaios, como "A política e a língua inglesa", ele defende uma prosa clara e direta, opondo-se ao uso retórico e obscuro da linguagem por regimes autoritários. Acredito que será uma leitura interessante, inclusive pra quem se interessa por ética na escrita, jornalismo crítico e o papel social da literatura. Tenho muitas, muitas criticas a Orwell, desde ao viés político a como ele abordava a história política em seus escritos...Porém, a curiosidade me levou a escolher esse título com nossa parceira, certamente terá resenha aqui no blog.

7 de jun. de 2025

Orange Vol. 5, Ichigo Takano

Quando terminei de ler essa história foi como se eu tirasse um peso dos meus ombros...Foi uma narrativa que me intrigou, deixou questionamentos e me fez teorizar muito e analisar os personagens e suas decisões. Sim, julguei muito algumas partes, outras detestei e outras foram realmente interessantes. Foi uma saga que não gostei, porém não conseguia parar de ler por conta da curiosidade que estava me incomodando. 


O quinto volume de Orange, da mangaka Ichigo Takano, encerra a história principal com um tom de esperança: Kakeru é salvo, os amigos sorriem sob o pôr do sol e o futuro parece, finalmente satisfatório e o amigo está a salvo. Mas por trás desse final sereno, há camadas emocionais e simbólicas que merecem um olhar mais atento — e talvez menos romântico. 

3 de jun. de 2025

Orange Vol. 4, Ichigo Takano

 Está quase acabando... Mais um post falando de Orange e só falta mais um volume para finalizar a série, quero dizer aqui nos posts mesmo, pois não me aguentei e já li tudo e cheguei a conclusão de que essa série definitivamente tem sim data de validade e certamente um público alvo para alcançar e definitivamente não me enquadro, não sei se me sinto muito velha ou aceito a passagem do tempo sem precisar me "cobrar" a gostar de uma série de mangás que alguns amigos gostam.




No quarto volume de Orange, a história atinge um ponto crucial. Naho e Kakeru finalmente reconhecem seus sentimentos um pelo outro, mas a sombra do destino ainda paira sobre eles. A tensão aumenta à medida que o grupo de amigos, agora ciente das cartas do futuro, unem forças para mudar o trágico desfecho que se aproxima para o amigo. Este volume é marcado por momentos de ternura e angústia entre os personagens e o desenrolar (mais doido possível) da trama. 

O festival esportivo se torna um símbolo de esperança, com os amigos se esforçando para criar memórias felizes para Kakeru. No entanto, a preocupação com os sentimentos de Suwa adiciona uma camada de complexidade emocional, já que ele também recebeu uma carta do futuro e sabe que, ao salvar Kakeru, pode estar abrindo mão de seu próprio futuro com Naho, porém é algo que ele mesmo não tem certeza do que pode acontecer. Suwa é o grande herói silencioso da história. Abrir mão da mulher que ele ama, sabendo o que no futuro aconteceria com eles, é MUITO pesado. É o tipo de gesto que carrega maturidade emocional, altruísmo real — quase um anti-herói romântico, porque ele ama em silêncio e age pelo bem do outro. Essa parte, confesso, me abalou muito, pois eu não sou do tipo boazinha e que abre mão das coisas pelos outros, e sempre acho que tudo tem várias vias e alternativas.

A narrativa de Ichigo Takano continua a explorar temas profundos como amizade, arrependimento e a luta contra o destino. No entanto, as coisas se desenrolam de um jeito totalmente estranhos e cheio de heroísmos e auto sacrifício por parte dos personagens. Orange tenta equilibrar entre o drama emocional e uma leve pitada de ficção científica, mas quando força a explicação do tempo com Triângulo das Bermudas e buraco de minhoca, quase derruba o que estava construindo. Enfim, foi um volume intenso, cheio de cargas emocionais e explicações forçadas sobre viagem no tempo, como alguém que ama ficção científica...fiquei doida com essa parte.

1 de jun. de 2025

Recebidos de abril e maio [Livraria unesp]

Como eu estive em crise por conta da depressão nessas últimas semanas, não consegui fazer os post durante esse meio tempo. Porém, consegui ir na livraria e fazer um vídeo mega fofo promovendo a livraria e indicando vários títulos lá no instagram. Algo que sempre escrevo nesse blog é o quanto escrever aqui é importante para mim, é parte de quem eu sou! Construir esse "lugar" me fortalece e me transforma, é como se fosse parte do meu diário realmente! Dessa forma, estar longe do blog por alguns dias, o que resultou em poucos posts, me deixou um pouquinho triste.

Leia esse post!

Não pise no meu vazio, Ana Suy

Essa foi mais uma leitura terminada nesse mês de março, a qual me fez bem no geral! O livro possui, em muitos poemas, uma metalinguagem sobr...